PRESENÇA NO (IN)EXISTENTE
Foi olhando a cena que se formava por trás da vitrina que, de súbito, me assustei. Nunca me vira assim, tão feliz em meio a brinquedos e confetes mal distribuídos pelo chão.
E a imagem que se formara ali, na pálida vidraça, bem a me encarar, seria realmente eu ou seria apenas um reflexo que nunca alcancei? Seria aquela imagem um ser que nunca fui pelo simples fato de estar do lado de cá, distante dos brinquedos, dos sonhos, posto à rua com toda as sua frigidez de pessoas e ruídos?
Mas pude tocar aquela bicicleta do outro lado da vitrina e abraçá-la em meus braços; pude pegar o trenzinho do ferrorama mesmo sem senti-lo nos dedos. A minha benevolência para com aqueles brinquedos era algo de uma concepção utópica e ilimitada, como a sua real essência já o era.
E estranho, ainda saber que minha fantasia regada a mistérios e pressentimentos poderia se dissipar ao poder de um suave descompasso do vento, que ora deslizava quase inexistente.
Foi quando escureceu! Desvencilhei-me consternado e tomei o meu caminho. E quando parecia que havia fechado os olhos para os meus sonhos, a cada nova vitrina, a cada nova lembrança de brinquedos e confetes, via fluir de dentro de mim aquela mesma imagem oriunda de menino terno e feliz. Que não acaba.
lepcam
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